Um vírus da gripe aviária que frequentemente foi negligenciado por causar doença leve em aves, o H9N2, apresenta potencial para desencadear uma pandemia humana. Pesquisadores que analisam o comportamento do vírus indicam que ele tem se adaptado para infectar seres humanos e reforçam a necessidade de ampliar a vigilância.
Nos últimos anos, a maior atenção das autoridades esteve voltada para o vírus H5N1, que já matou cerca de 21 pessoas desde 2020 e se espalhou por vários continentes, inclusive chegando a infectar bovinos leiteiros na América do Norte. No entanto, o H9N2 é a segunda variante de gripe aviária mais comum em humanos, com 173 casos confirmados desde 2015, principalmente na China.
Michelle Wille, do Peter Doherty Institute for Infection and Immunity em Melbourne, afirma que os próprios números de infecção provavelmente são subestimados, pois infecções por H9N2 tendem a não causar doenças graves ou necessidade de hospitalização comparado ao H5N1, o qual recebe mais atenção em testes diagnósticos.
Os cientistas ainda não encontraram evidência de transmissão sustentada de pessoa para pessoa pelo H9N2, o que é fundamental para uma pandemia. No entanto, estudos mostram que a variante sofreu mutações desde 2015 que aumentaram sua capacidade infecciosa. Uma versão coletada em 2024 infectou mais células humanas em testes laboratoriais do que uma versão histórica de 1999, além de apresentar melhor ligação com receptores humanos.
Para uma transmissão sustentada, o vírus ainda precisa adquirir adaptações que favoreçam ligação preferencial aos receptores humanos e ao ambiente fisiológico do corpo humano, diferente das aves, incluindo temperatura e pH.
O alerta dos pesquisadores é para que a vigilância do H9N2 seja intensificada junto às medidas de controle da gripe aviária, visando identificar possíveis mudanças que possam resultar em surtos mais extensos ou uma nova pandemia.
O estudo completo foi divulgado na revista Emerging Microbes & Infections e apresentado no Pandemic Research Alliance International Symposium em Melbourne.
Este alerta reforça a importância do monitoramento contínuo e investimentos em saúde pública para prevenir a emergência de eventos pandêmicos causados por vírus de origem animal que evoluem para afetar o homem.



